Estava agora há pouco me lembrando de quando eu era criança e era uma pessoa inocente. Lembro-me que essa sempre foi uma das minhas maiores características naquela época, e muitas vezes, isso me prejudicava. Dois acontecimentos marcantes que envolvem isso foram:
1 - Eu tinha meus 12 anos de idade, e ia todo dia pra escola com um vizinho meu do prédio, que estudava na mesma escola e era um ano mais velho que eu. Ele era uma pessoa companheira e agradável, e o fato de ter a companhia dele todo dia que ia pra escola, me fez me apegar a ele. Até que um certo dia, um vizinho meu disse a mim que ele tinha dito algumas coisas a meu respeito, inclusive, que tinha me visto "tocando punheta no banheiro da escola". Eu na minha inocência, perguntei: "Mas que instrumento musical é esse?" Naquele momento, todos que estavam presentes viram que eu não sabia o significado daquela expressão, e perceberam que tratava-se de uma mentira. Alguns dias depois descobri que ele tinha inventado dezenas de boatos a meu respeito. Foi uma das decepções que tive na minha vida.
2 - Uma vez eu estava saindo da escola. Naquela época eu devia ter meus 8 a 9 anos de idade, e estudava a tarde, no colégio São Paulo, um colégio caro, que fica em Ipanema, em frente a praia, e por ser num lugar tão nobre, só o fato de estar usando o uniforme da escola, já despertava o interesse de muita gente. Naquela tarde, meu pai não pôde ir me buscar como sempre fazia, e mandou que minha irmã fosse. Ela é 5 anos mais velha que eu, e foi me buscar. Saímos da escola e fomos para o ponto do onibus esperar pela condução, até que uma mulher vai até nós e diz: "Tem um homem naquele carro parado, que está chamando vocês pra irem lá." Eu na minha inocência, já ia em direção ao carro... ele lembrava aquele opala preto da novela "A próxima vítima". Mas, felizmente, minha irmã me segurou pelo braço, e disse discretamente para eu ficar onde estávamos, pois não o conhecíamos. A mulher insistiu mais duas vezes, e de fato, tinha um cara lá dentro, que nos chamava. Minha irmã numa atitude de desespero, disse para atravessarmos para o calçadão da praia. Eu, claro, não entendi nada, pois a pista do calçadão era a que tinha o trânsito em sentido contrário ao da minha casa. Mas ela quase que me carregou pelo braço, e não respondeu a nenhuma de minhas perguntas. Ao chegarmos do outro lado, só me lembro de ter visto a tal mulher, entrando no carro e eles arrancando em alta velocidade.
Uma coisa eu tenho certeza: a inocência faz com que nos machuquemos, sejamos enganados, vítimas de boatos, mas sem ela, vemos o mundo de uma maneira mais complicada, pois entendemos a realidade em que vivemos, e descobrimos que fantasia, é algo que existe apenas nos livros.
A inocência faz enxergarmos a vida colorida,
a realidade deixa nosso mundo, preto e branco.
André Almeida